sexta-feira, 17 de abril de 2009

CRÔNICA DE UM ANIVERSÁRIO

Prezados Lagartenses, intimado por um grande amigo meu esta semana, Floriano Fonseca, resolvi tecer algumas considerações à cerca dos 129 anos de emancipação política de Lagarto.
Poderia centrar minhas palavras tão somente na questão histórica, mas diante da riqueza de tal temática, além do trivial, de que Lagarto torna-se cidade a partir de 1880, vamos procurar ressaltar algumas coisas que mexem mais em nossa identidade e nos convida a uma reflexão profunda de nossos destinos.
Passados 129 anos de emancipação, o quê efetivamente se pode comemorar: nossa ignorância reinante ou nossa apatia doméstica travestida numa pujança que já não existe mais há pelo menos 30 anos?
Comecemos por nossa mania dicotômica de rotular as pessoas de saramandaia ou de bole-bole, como gados marcados prontos para o abate de sua personalidade. Em Lagarto, convencionou-se dizer que nascemos marcados, como pragas. O estigma nos leva prá todos os lados e cega as pessoas, não lhe dando a oportunidade da luz própria. Não sendo uma coisa ou outra, você é, no mínimo, um “maldito comunista” da estrela, mais solitária do quê nunca, pois aqui está mais pra monarquia do quê prá república.
Sim, essa é a cidade que construímos nesses 129 anos. Uma cidade que vive dos fantasmas de Sílvio Romero e de Laudelino Freire, mas se esquece de uma infinidade de gênios espalhados por aí de carne e osso, de Assuero a Emerson Carvalho. Uma cidade cuja ternura esqueceu no túmulo da poesia graciosa e inconfundível de um Abelardo Romero ou numa prosa exportada de Ranulfo Prata.
Cidade cujos vórtices de sua fortuna é a língua, capitaneada nas esquinas, nos bares, nas rádios e nos jornais, nos enterros, procissões e carnavais (quais, mesmo?). Cidade das idiocracias justificadas no poder de estado e de dinheiro, onde seus meninos agora cheiram cola e fumam crack, ao invés de fazer poesia.
Cidade de passado histórico formidável, enlameada por um presente obscuro, mesquinho e oportunista, cuja vontade de crescer se coaduna com a conta bancária, com o status forjado e a carapuça carcomida da inveja, ações rasteiras e vis dos bobos da corte de plantão, e seus reis e fadas, chavões baratos e ribeirinhos.
Não, efetivamente não tenho o quê comemorar frente a uma realidade que usa a não-vingaça e a não-perseguição como arma perigosa, que perto do quê se atribui ao homem de patente, é vã filosofia sepultada de velho, que ao passo que tenta apagar a memória, reaviva a lembrança e a história, essa salvaguarda dos excluídos e vingadora dos ignorantes letrados sentados na bosta fétida do poder.

Um comentário:

Vagner Santos de Araújo disse...

Ratifico as afirmações feitas e ainda complemento com as considerações de que uma cidade que não preza e despreza sua história, não pode vangloria-se de comemorar nada. É preciso redescobrir as raízes e construir uma sociedade que não possui como refúgio de diversão a insignificante dupla Romana: Pão e Circo. Deixo registrado que neste ano, mas especificamente dia 11 de dezembro, a paróquia estará comemorando 330 de criada. E é claro que não se pode separar a história da cidade da história da paróquia, pois ambas se ergueram apoiadas. (e parecem cair também apoiadas)