“Torço para que, um dia, consigamos o que ainda está faltando: maior facilidade de sustentabilidade, reconhecimento das Casas de Apoio pelo SUS e… Oxalá, a cura da Aids” – João Rosendo dos Santos, 2002.Quantos anos são necessários para se dar conta da vida? Quantas vidas são necessárias para amar o próximo? Perguntas como estas fizeram do lagartense João Rosendo dos Santos, falecido no dia 07 de fevereiro de 2009, em Guaratinguetá-SP, um dos mais importantes e decisivos casos de amor pela humanidade que já se pode notificar em toda nossa laboriosa história.
Septagenário, no ano de 1993, João Rosendo dos Santos, natural da cidade de Lagarto-SE (27 de janeiro de 1929), filho do ex-vereador José Rosendo dos Santos (aprendendo deste lições de acolhimento e solidariedade ainda em terras lagartenses), descobriu que estava com câncer de próstata. De uma tragédia humana fez uma meta: abrir uma casa para dar assistência a pessoas que ficavam sofrendo nos corredores de hospitais e sem moradia depois da alta médica. Essa dedicação aos enfermos se deu de forma ainda mais precisa aos pacientes vítimas de AIDS, tendo nascido daí a fundação das Casas de Apoio “Sol Nascente”.
Casado com a italiana Anna desde os anos 60 (a eterna namorada do Geovani, como o chamava carinhosamente), e com quem compartilhou por longos anos o ideário do Movimento dos Focolares ou Obra de Maria, João teve passagens pela Itália, em missão em Moçambique (África) e por São Paulo, fixando em seu interior até seu falecimento. Terceiro filho de 29 irmãos, formou-se em Direito, tornando-se também um exímio administrador, sobretudo de almas. Seus filhos, Roberto, Márcio, Nelson e Ana Claudia herdaram do pai o amor incondicional pelo próximo.
Dez anos antes da descoberta do câncer (1983), seu filho Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos fundava o promissor projeto de recuperação de jovens dependentes químicos, a Fazenda Esperança, com presença marcante em sua terra natal (1990): com as casas São Miguel e Santa Rita. Devoto e esperançoso, João Rosendo consegue alcançar a cura do mal que lhe afligia, tendo vivido por mais alguns anos.
Esse prolongamento da vida, permitiu ao ativista lagartense (também conhecido como “o vovô na luta contra a AIDS”) fazer de sua existência uma constante doação aos enfermos físicos e de alma, tendo concentrado seus esforços em benefício da causa iniciada pelo filho. Logo, logo, seu entusiasmo pela causa aos infectados com o vírus da AIDS se multipicou Brasil a fora, a exemplo de Fortaleza-CE, adquirindo o respeito de várias entidades brasileiras e mundiais.
Entre as metas de João Rosendo, em que pese a não existência ainda da cura da AIDS, esteve a preocupação em fornecer aos enfermos um maior tempo de vida e uma morte digna, santa até, como fora atestado por enes casos e depoimentos ao longo de toda essa jornada.
Embora fosse novamente acometido de enfermidade física, à altura de seus bem vividos oitenta anos, João Rosendo dos Santos teve uma partida serena e santa como se é reservada a pessoas que deixaram tudo para servir ao próximo, dentro da concepção mais pura e verdadeira de cristandade.
Certamente Lagarto orgulha-se de presentear ao mundo um cidadão com tamanha contribuição humanitária, capaz de transformar um drama pessoal numa proposta social frutífera e abnegada, como é a causa pela luta contra a AIDS e a o apoio aos dependentes químicos carentes, dando-lhes uma oportunidade, como a que lhe fora concedida anos antes de cumprir sua missão no plano terreno: servir.
Fontes:
Boletim da Fazenda Esperança – Edição 19 – abril de 2009.
Da Esquina para o Mundo – O que são as Fazendas da Esperança. Editora Cidade Nova, São Paulo-SP: 2007.
Celebração Eucarística do Enterro de João Rosendo dos Santos (vol. I e II). Fazenda Esperança. Guaratinguetá-SP, 2009 (DVD).
Agradecimentos:
Sra. Rosemary Rosendo de Alcântara
Sra. Joselma (Mada) e Sr. Evilázio (Chiaro) - (Fazenda Esperança – São Miguel e Guaratinguetá)
Cristiane Carvalho Santos Melo(Secretária Municipal de Saúde – Lagarto-SE).
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