sexta-feira, 20 de maio de 2011

GRUPO PARAFUSOS DE LAGARTO - VENHA VER O BONITO

Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos*
(GPCIR-DHI-UFS)



“Quem quiser ver o bonito, saia fora e venha ver, venha ver o parafuso a torcer e a distorcer”. Durantes anos, homens travestidos de anáguas, cara pintada de branco, com chapéu e fita vermelha saem às ruas de Lagarto e do Brasil girando e cantando ao som de um trio pé de serra. Trata-se da mais original e tradicional manifestação cultural do povo lagartense.

O Grupo Parafusos, assim denominado pelo historiador Adalberto Fonseca, embora suas origens remontem ao século XIX (atribuída, com certa dubiedade, ao Padre Saraiva Salomão, sobretudo em que pese este ainda ter alcançado a assinatura da Lei Áurea), se firmou enquanto manifestação popular a partir dos anos 1980, quando é convidado a participar do Festival de Folclore de Olímpia.

Tornando-se uma atração a parte daquele importante festival da cultura brasileira, que ocorre até hoje em São Paulo, o Grupo Parafusos alcançou uma expressão nunca antes vista, com destaque tanto a nível regional como nacional.

Não há quem não se contagie com as peripécias acrobáticas de seus brincantes, exclusivamente homens. Talvez porque no início eram homens negros e escravos que roubavam às vestes das sinhazinhas, quando estas quaravam à luz da lua cheia, para disfarçados fantasmagoricamente fugirem dos capitães do mato.

A continuidade dessa tradição genuinamente lagartense (e olhe que não faltam esforços para desconsiderar isso) se deve em grande medida a três personagens, em três diferentes épocas: Adalberto Fonseca (anos 80), Seu Gerson (anos 90) e Dona Ione (na atualidade).

Seu Adalberto nos deixou no inicio deste século. Sua imagem, durante anos esteve intimamente associada ao grupo. Seu Gerson (de saudosa memória), um dos jovens que participavam do grupo nos anos 70 e 80, tornou-se uma referência inconteste. Não deixou a tradição acabar e assumiu com galhardia seu posto de líder até seu falecimento. Fundou a Associação dos Grupos Folclórico de Lagarto (ASFLAG) e chegou a tirar do próprio bolso para manter não só os Parafusos como outros grupos da cidade. Foi reconhecido, inclusive nacionalmente, como cidadão de Olimpia-SP, além de uma série de prêmios. Dona Ione hoje assume o bastão e vem se dedicando com afinco à continuidade não só dos grupos bem como da associação.

Porém, não poderia deixar de encerrar essa crônica sem antes lembrar Carlinhos da Prefeitura Municipal de Lagarto. Um dos mais animados brincantes de Parafusos que já presenciei nas inúmeras apresentações do grupo em Lagarto. Sempre sorridente e prestativo, Carlinhos representa a essência dos homens lagartenses de anáguas: bonito.

* SANTOS, Claudefranklin Monteiro . Grupo de Parafusos de Lagarto - Venha ver o Bonito. Revista Perfil, Aracaju-Se, p. 64 - 65, 30 dez. 2010.

domingo, 11 de julho de 2010

SARAMANDAIA X BOLE-BOLE: O QUE SERÁ QUE SERÁ?

Nas últimas semanas, uma velha discussão esteve em volga novamente nos bastidores, nas esquinas, nas rádios e em várias rodas da cidade de Lagarto. Com seus principais líderes impossibilitados de concorrerem a mandatos políticos no ano de 2010 e com a cisão (mais uma vez) de um dos dois grupos, perguntas-se: qual o destino do Saramandaia e do Bole-Bole? Como diria Chico Buarque: “o que será que será?”
No ano de 2008, mais precisamente em dezembro daquele ano, tive a ousadia e a honra de organizar um livro que causou grande expectativa entre todos, sobretudo entre os “apaixonados” da hilariante política de grupos de Lagarto. O livro “Uma Cidade em Pé de Guerra: Saramandaia x Bole-Bole”, de autoria dos professores Alailson, Raylane e Patrícia, resultado de trabalhos monográficos feitos pela UFS nos cursos de História e de Sociologia daquela IES, casou uma série de polêmicas e muitas, mas muitas fofocas, advindas em sua maioria do fato das pessoas não o terem lido devidamente, distorcendo algumas de suas informações.
O livro já anunciava, em sua apresentação, algo que as pessoas comentaram muito essa semana: a viabilidade e o destino dos dois grupos mais tradicionais de Lagarto. Criados em 1976, em função de um racha entre seus fundadores, Artur Reis e Ribeirinho, e ex-aliados do grande líder político Dionísio de Araujo Machado, Saramandaia e Bole-Bole ao longo de seus 34 anos de existência protagonizaram episódios políticos dos mais engraçados (como sua inspiração em termos de nomenclatura: uma novela de sucesso da Rede Globo) aos mais violentos como as famosas agressões entre seus partidários, tanto verbais como físicas.
Em mais de trinta anos, em minha humilde opinião, suas existências mais atrapalharam do que ajudaram. A história e os números mostram isso: aqui eu só endosso. Claro que não se podem negar as contribuições dos dois grupos para o crescimento da cidade, mas se pensarmos no estado atual da Bica e nas perseguições políticas, nas ofensas e nas divisões de famílias e de pessoas, não há muito o que se levar em consideração positivamente.
Além disso, a política mudou consideravelmente. As velhas práticas estão sendo repugnadas por novos personagens da política lagartense e o povo não está mais subserviente, até porque a população se renova a cada dia e Lagarto vai se firmando como cidade universitária. Outra coisa, ninguém, inclusive, eu não quer mais ser estigmatizado e rotulado disso ou daquilo e quer ter liberdade de escolha, de trânsito político e poder de decisão para ajudar Lagarto e não mais a enriquecer e sustentar famílias já abastadas.
Nesse sentido, o ano de 2010 pode ser decisivo. Percebo duas tendências: o surgimento de uma nova via, ainda não configurada e firme, conduzida pelo Prefeito Valmir e uma outra, representada pelo desmantelo dos dois grupos, frente a desconfiança de seu partidários. É claro que entre uma e outra, diante do ainda forte fôlego de seus líderes, pode ser que se recrudesça as tendências aqui expostas e se reafirme a “tradição” bipolar. Porém, uma coisa é certa, afirma Chico Buarque, ainda em sua bela música do final dos anos 80: “o que não tem vergonha, nem nunca terá, o que não tem juízo... o que será que será?”
Fonte: Claudefranklin Monteiro Santos. Jornal Folha de Lagarto, Junho de 2010.

sábado, 22 de maio de 2010

QUEM PARIU MATEUS, QUE BALANCE!

Nas últimas semanas, sobretudo na cidade de Lagarto, tem sido pauta de discussão (às vezes exagerada) a determinação judicial quanto à substituição de denominações de lugares públicos atribuídos a pessoas ainda vivas. A mesma determinação recomenda e impera a troca de tais nomenclaturas por pessoas que já tenham falecido.
Eis o “bolo” feito e servido, como diria o jornalista Aloísio Andrade (Juventude FM). Sem querer entrar no mérito da questão, o fato é que essa atitude do Poder Judiciário (como na maioria dos casos) tem gerado inúmeras situações embaraçosas não só para os chamados “vivos” como também para os ditos “mortos”. É importante frisar, que, particularmente eu já havia cantado essa pedra quando, gentilmente, a Secretária de Educação Maria Vanda Monteiro havia me comunicado de seu interesse em homenagear o saudoso José Cláudio Monteiro Santos (1954-2005), em março do ano passado.
A verdade é que a Justiça acabou parindo uma criança aberrante, capaz de meter medo até em quem a gerou. Assim, ninguém quer balançar a mesma, sob pena de esta lhe causar aborrecimentos, como tantos que têm surgido desde que esta “sábia” decisão do egrégio Poder Judiciário foi posta em prática. Só por curiosidade provocativa, gostaria de perguntar o que todo mundo tem interesse: o exemplo vai ser dado em casa? Leia-se: a Justiça também vai fazer a troca de nomes dos lugares públicos que tenham Desembargadores ou demais autoridades do Judiciário vivas?
Não bastasse tudo isso, o “parto” tosco gerado pelo Judiciário tem resultado num outro problema: o da paternidade. Sim, pois todo mundo agora quer tirar uma casquinha: da Câmara de Vereadores aos bajuladores de plantão ou, como diria o jornalista José Raymundo Ribeiro (FM Eldorado), “os ratos de rádio”. Todo mundo quer se achar no direito de sair trocando nomes aqui e acolá sem nenhum critério ou para fazer bonito diante da liderança política local.
Mas como diria, também, o jornalista JC (AM Progresso): “Quem não quer que aconteça, não apareça”. Assim, essa fúria atabalhoada de troca de nomes, esse festival de troca-troca tem produzido espetáculos circenses no pior sentido da palavra. Isto tem resultado em cenas nada prudentes e no mínimo inconvenientes. Para quem está vivo, o constrangimento de ver seu nome retirado; para quem está morto, o inconveniente de seus familiares em ver o nome de seu ente amado ser rifado como numa espécie de quermesse macabra, onde o vendedor grita: “quem vale mais!”. Isso é simplesmente ridículo!
Daí então, quem deve ser processado por danos morais: a justiça? Como processar a própria justiça por danos? Quem imbróglio jurídico, hein?! Antes, era melhor ter ficado como estava e determinar que a partir da presente data, ficasse valendo só os nomes dos falecidos. Se isto tivesse ocorrido, além de inteligente, seria prudente e até humano. Nessas condições, até mesmo eu queria balançar Mateus, embora nunca tivesse deitado com a mãe dele.
Fonte: SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Folha de Lagarto. Maio de 2010.

domingo, 18 de abril de 2010

EMANCIPAÇÃO E EMANCIPAÇÕES – 130 ANOS DA CIDADE DE LAGARTO (1880-2010)

Prestes a completar 130 anos de cidade, a tricentenária Vila de Nossa Senhora da Piedade vive um clima de separatismo, marcado pelo desejo dos Povoados Jenipapo e Colônia Treze de virem a atingir a mesma condição de sua sede, Lagarto. Considerando sua longa história, seus marcos e todo processo e contexto político-social que envolve esse momento que deveria ser unicamente de comemoração, é mister discutir o significado da condição de emancipado, com vistas a tentar desfazer e colaborar para o amadurecimento de sua gente e, sobretudo de seus munícipes.
Antes de tudo, cabe informar e reparar uma distorção que se atribui a história de Lagarto, que a meu ver é equivocada. À luz das fontes disponíveis, Lagarto nunca precisou ser emancipado de ninguém, haja vista que sempre já o fora, desde sua fundação: 20 de outubro de 1697. Isto sem falar que em 1679, já possuía sua própria, digamos, liberdade eclesiástica, com sua Paróquia. De tal modo que, diferentemente de outros lugares de Sergipe, Lagarto nunca pertenceu a outro território para assim ficar “emancipado”. Emancipado de quem? Ganha um doce que tiver uma resposta.
Pois então o que houve efetivamente no dia 20 de abril de 1880? Por que ao longo de tantos anos se convencionou dizer, erroneamente, emancipação política? Como essa palavra dever ser inserida na discussão sobre a história política de Lagarto que justifique a comemoração? Perguntas e mais perguntas podem elucidar situações ainda obscuras em sua, repito, trajetória tricentenária, como essa coisa da pedra que nunca me convenceu, particularmente. Pelo menos, até que me provem o contrário, dado que a história se faz pelas representações que são construídas ao longo do próprio processo histórico de quem a escreve.
A emancipação, se entendida como constituição de uma estrutura diferente de Villa (eminentemente agrária), agora urbana, com todo um aparato político e social, com Câmara, leis, códigos de postura, entre outros, aí sim. Mas, no sentido de separação política e independência como se construiu até então, jamais. Insisto, é um equívoco. Uma distorção sem tamanho.
A Lei nº 1140, sancionada em 20 de abril de 1880, ato jurídico que eleva a Vila de Lagarto à condição de cidade, não menciona emancipação ou libertação, ou algo do tipo. O próprio Pe. Álvares Pitangueira, grande entusiasta do processo foi decisivo pra isso, inclusive se indispondo com os contrários ao falar de elevação da Villa à categoria de cidade não via desta forma. O sentido da emancipação naturalmente se estabeleceu sob o ponto de vista das condições históricas de época e não, insisto por separatismo, como almejam os Povoados Jenipapo e Colônia Treze hoje. Favor não confundir emancipação, no sentido cidadão, com separação. Nem toda separação implica emancipação: que o diga a maioria dos países latino-americanos e africanos que ainda almejam isso em sua plenitude.
Nesse sentido, entendo que embora justas as reivindicações separatistas dos povoados, é preciso dizer com muita tranqüilidade que eles ainda não estão prontos para assumir essa condição: de cidade. É verdade, que quando Lagarto alcançou isto, estava longe de ser o que são e representam hoje o Jenipapo e a Colônia Treze. O próprio Sílvio Romero, antes mesmo de 1880 já dizia que Lagarto era uma Vila Sertaneja. Mas o contexto era outro. As condições históricas eram outras. Até mesmo a Constituição atual não permite ainda isso, no sentido de impedir o festival de emancipações dos últimos anos no Brasil, com algumas aberrações se tornando municípios e hoje vivendo um estado de penúria sem medida.
Penso que, nesse clima de comemorações alusivas aos 130 anos de elevação de Lagarto à condição de cidade, duas coisas deveriam ser refletidas e pensadas de forma aberta e ampla. Uma diz respeito a sua lagartinidade. O lagartense precisa se sentir efetivamente lagartense, daí a necessidade de valorizar a sua história a sua cultura que ultrapassa 330 anos. Fico preocupado quando se dá valor só ao 20 de abril, quando o 20 de outubro ainda é mais importante. Nossa condição é muito mais importante do que possa imaginar.Outra coisa, que vai ao encontro dos anseios dos povoados. Antes de querer e falar em emancipação (penso que ela virá com o tempo), é preciso mudar a postura para com todos os povoados. No sentido de atenção mesmo. Os povoados não podem ser vistos como meros apêndices da sede. É preciso, é urgente fortalecê-los com ações mais efetivas de um desenvolvimento pleno. Foi-se o tempo em que nossos munícipes do interior eram tratados como tabaréus. A roda da história e da vida mudou. Portanto, a condição emancipada desses povoados e até mesmo de Lagarto não vai se dá por uma questão geopolítica, mas humana e cidadã. Emancipação não é condição, é estado.
Fonte: SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Revista Perfil - Abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

ASCLA – 40 ANOS: I - DOS IDOS DOS PRIMEIROS TEMPOS (1970-1981)

Se esta matéria pudesse ser definida numa música, convidaria Caetano Veloso para dividir sua autoria comigo. O ano de 1970 foi um marco para Lagarto, especialmente o dia 31 de janeiro, quando 12 jovens lagartenses reuniram-se para fundar um grupo que discutisse, pensasse e executasse ações que talvez não mudassem o mundo, mas que certamente evitaria a existência de mais um canalha nele. Este era o espírito daquela geração, prefigurada em seu convite bem apropriado para o contexto: de ausência de liberdade.
A história da ASCLA (Associação Cultural de Lagarto), fundada oficialmente em 21 de fevereiro de 1970, pode não ser uma das mais belas da tricentenária vila de Nossa Senhora da Piedade, a julgar outros momentos que a antecederam. Berço de tantas efemeridades intelectuais, as quais todos sabem julgar e valorizar, Lagarto nunca foi o limbo da cultura, nem o supra-sumo de sua formação.
Talvez os canalhas aos quais aquela geração se referia, como se refere uma outra música, do Cazuza, pudessem fazer valer o esforço de 40 anos, picotados por altos e baixos, trancos e barrancos. Mas não imagino diferente, porque a cultura não é e nunca foi prioridade. Mas aquela geração deixou marcas e fez escola. Outros jovens, em momentos diferentes também se reuniram para tentar fazer alguma coisa por nossa história e por nossa cultura, para tentar despertar algo no lagartense que lhe identificasse enquanto povo.
À frente da implantação daquele sonho de mudança, Pe. Danilo Gazetto (que teria vindo da Itália em companhia de Padre Mário, hoje Bispo de Propriá) liderou jovens intelectuais e amantes da cultura lagartense, a saber: Jaime Noberto da Silva, Ivan Batista de Santana, Paulo Andrade Prata, Maria Helena Alves, José Fonseca Reis, Paulo Nogueira Fontes, Raimundo Alves Santos, Gilson Batista de Menezes, Joaquim Prata Souza entre outros. Um sonho interrompido ou pelo menos suspenso por quatro vezes (1977, 1988, 1990 e 1996).
A primeira fase (1970-77) da ASCLA poderia ser definida como a de vislumbre. Mas também de afirmação, daquelas quando se deixa recado, embora se parta sem deixar aviso. Realizações de peso definiram o norte da cultura em Lagarto, mas não foram páreas para a indiferença, o desânimo, as intrigas e o ciúme (a erva daninha da associação). A parceria com o poder público pode até ter dado frutos, mas não prosperou: porque cultura é favor, não é o fim último.
Do primeiro interregno (1977-1988), não existe nada registrado. Pelo menos em ATA. Mas o pesquisador Floriano Fonseca, com sua memória prodigiosa, nos ajudou a rememorar esse momento. Segundo o mesmo, “(...) entre os anos de 1978/79 as reuniões aconteciam na residência do jornalista Enoque Araujo, na Av. Zacarias Junior. Lembro bem das presenças de Aderaldo Prata, Maria Araujo, Souza irmão de Enoque, João Brasileiro, Edilelson de Zé da Manteiga, Paulo Correa, Alex Dias, Floriano Fonseca, Noeme Dias, entre tantos outros”.
Nesse período, marcado pela resistência estudantil ao regime militar, realizou-se uma das mais importantes iniciativas da ASCLA: o I FLAMP (Festival Lagartense de Música Popular) em 1981. A idéia teria sido do atual Diretor de Cultura do Município: Enoque Araújo. Ocorreu no antigo Cine Glória (atual Bradesco) sob a presidência de Valdier Oliveira Cezar. Foram selecionadas 24 músicas, sendo apresentadas 12 no sábado dia 21/02/1981 e 12 no dia seguinte. Após as apresentações foram escolhidas as vencedoras: 1º Bradando (Enoque Araujo e Antonio Rocha), 2º Rios de Verão (Severino melo e João Rocha), 3º Ilhas Olhos (Grupo Cataluzes) e 4º Buleia de Caminhão (Grupo Saco de Estopa). Melhor intérprete Samuel (Bradando), jure popular, Bradando. Augusto Prata registrou o festival fotografando, mas as imagens se perderam, afirma Floriano. “A banda de base do festival era os CONFIANTES que contava com Carlinhos Menezes nos teclados, Valter Nogueira nos vocais, Almir no contra-baixo. Além do Cataluzes outros artistas de Aracaju se apresentaram a exemplo de Irineu Fontes e do Grupo Repente”.


Fonte: Claudefranklin Monteiro - Revista Perfil (Jan/Fev/Mar - 2010)
Foto: Floriano Fonseca (I FLAMP - 1981)

segunda-feira, 1 de março de 2010

CULTURA AOS TRANCOS E BARRANCOS (PARTE II)

Claudefranklin Monteiro Santos, Folha de Lagarto de 15 de fevereiro de 1997. pg. 06, na coluna História e Estórias de Lagarto

Dando continuidade ao histórico da ASCLA – Associação Cultural de Lagarto – entramos n a fase mais inconstante da mesma. Um período promissor, mas muito turbulento, sem idealismo e muito pouca abnegação.
Como vimos, a primeira desativação da entidade se deu no dia 18 de janeiro de 1977, quando os membros se reuniram em sua última sessão. Em 1988, portanto, após dez anos de anonimato, no dia 06 de março, na antiga sede do GRUJAC (Grupo de Jovens Amigos em Cristo), à rua Laudelino Freire, jovens idealistas como o radialista Anderson Christian de Souza Prata decidem reativar a ASCLA.
Em sua segunda fase, a ASCLA promoveu eventos importantes, ligados à história e a cultura lagartense. Entre esses eventos, o mais importante e que teve um alcance maior, foi o Salão de Fotografias “Lagarto Antigo”, realizado a partir do dia 15 de abril no Prédio da Câmara Municipal, cedida pelo então prefeito da época o Sr. Artur de Oliveira Reis. Compareceram ao evento aproximadamente mil pessoas.
Era uma época conturbada aquela, com novidades mil, que levaram os jovens a se desligarem da cultura para resolver problemas particulares – a velha desculpa para pôr o corpo de fora. Assim, aos 25 de abril do mesmo ano, com o afastamento do presidente, desativa-se a associação em sua segunda vez.
Parecia que nossa cultura decretaria “falência” definitivamente, até que em 29 de maio de 1990, início de uma nova década, na casa do jovem Jason Alves de Oliveira, avenida Rotary 40, dá-se uma nova tentativa de rever a ASCLA, mas a reunião não passou disso, frustrando as esperanças dos amantes da cultura lagartense.
A cultura em Lagarto há muito não vem sendo levada a sério, e parou justamente quando ela tinha alcançado seu ápice. Por isso, nesses tempos ainda tínhamos com o que nos orgulhar. Homens como Pe. Danilo, Paulo Prata, Paulo Nogueira Fontes, Joaquim Prata, Divaldo Santos Andrade, José Aloísio Souza Vieira, Manuel Carvalho Libório, Lourival Santos, Abelardo Romero e Luiz Antônio Barreto, são alguns exemplos do quanto éramos ativos culturalmente, e levam o nome de Lagarto em tudo que fizeram e fazem. Todos eles foram crias da ASCLA.
Hoje somos um povo sem amor pela cultura. Nossas preocupações vão além da mesma. Nos prendemos e valorizamos mais as coisas fúteis. Mal temos Secretaria de Cultura que se preze e que tenha nomes que honrem a história de Lagarto, que reanime e dê forças através, justamente, de eventos que venham a despertar a potencialidade desse nosso povo deixado demente e carente. Se as atividades culturais fossem uma constante em nossa cidade o número de desocupados e marginais cairia, pois eles teriam com quê se prenderem e se valorizarem. É assim nas principais capitais e cidade do Brasil, onde se desenvolve um trabalho sério de aculturamento, integrando o jovem à comunidade e despertando nele os seus dons.
E foi pensando nisso que no dia 29 de agosto de 1996, pela terceira vez (um é pouco, dois é bom, três nunca é demais), sob o incentivo do poeta Assuero Cardoso Barbosa, jovens se reúnem na Biblioteca Pública desse município, para reativarem a ASCLA. Estavam presentes àquela sessão de número 47, além desse humilde professor que vos escreve, os senhores: Francisco Monteiro (professor), Leustênisson (artista plástico), Sidney Seixas (estudante/Presidente do Grêmio da UNED), Alvino Argolo (professor) e o próprio Assuero, o qual ministrou a reunião. A meta era o renascimento da ASCLA, e deveria se dá com mais ânimo e idealismo que as outras vezes.
O grande desafio dessa nova fase da ASCLA, além de tornar a entidade respeitável, é a realização do II FLAMP (Festival Lagartense de Música Popular) com data marcada para 22 de março de 1997, com local a ser definido pelo prefeito Jerônimo Reis que já deu seu aval para a entidade, inclusive prometendo a sede para a mesma.
A diretoria da ASCLA hoje, está assim distribuída: Presidente – Assuero Cardoso Barbosa; Vice-Presidente – Leustênisson; 1º Secretário – Claudefranklin; 2º Secretário – José Antônio de Santana; 1º Tesoureiro – Antônio Nilo de Vasconcelos; 2º Tesoureiro – Fábio Ribeiro dos Santos; Relações Públicas e Comunicação – Anderson Ribeiro dos Santos e Karine Carvalho Silva; Esporte – Édson Dória Júnior e Prof. Valmar; além de outros colaboradores.
Enfatizando o valor do evento que a nova fase da ASCLA pretende realizar, é bom que se frise que o I FLAMP, realizado pela mesma entidade em 1971, fez despontar a Banda Cataluzes e boa parte dos membros do Saco de Estopa, como o vocalista Floriano.
Espera-se muito da ASCLA para esse ano, ainda mais depois do sucesso que foi o II Concurso de Poesia Falada da Região Centro-Sul, realizado no dia 20 de novembro de 1996, no Polivalente, e que teve o apoio cultural da associação.
Que o idealismo, sempre presente na ASCLA, possa animar os novos membros e que Lagarto possa voltar a crescer (parafraseando o slogan do novo prefeito) em termos culturais, recolocando-a no posto em que sempre esteve, ao lado de Laranjeiras e São Cristóvão, como uma das cidades que mais produz culturalmente, despertando novos Sílvio Romero, Laudelino Freire, Ranulfo Prata, além de outros valores populares e artísticos, para que, enfim, possamos escrever novas linhas, e belas, da história cultural lagartense, não mais aos trancos e barrancos, e sim aos aplausos e sucessos.

CULTURA AOS TRANCOS E BARRANCOS (PARTE I)

Claudefranklin Monteiro Santos, Folha de Lagarto de 06 de fevereiro de 1997. pg. 02, na coluna História e Estórias de Lagarto
Tivemos em mãos por esses dias, um valiosíssimo documento de nossa história em migalhas, repleto de estórias, muitas estórias. Trata-se do livro de atas da ASCLA – Associação Cultural de Lagarto. Através dele, podemos fazer um levantamento histórico minucioso dessa entidade tão importante para o desenvolvimento cultural de Lagarto, e que hoje RENASCE sob a presidência do poeta Assuero Cardoso Barbosa, coordenado por uma parcela de jovens intelectuais de nossa cidade.
Por se uma história um tanto longa, mesclada e pincelada de dados curiosos e relevantes, a contaremos em duas matérias, dividindo-a em dois momentos: o que vai de sua fundação, em 1970; e o que retoma em 1988 aos dias atuais.
É uma história interessante, pois responde algumas das indagações feitas no artigo “Refletindo Cultura” de 21 de novembro de 1996, e dá uma idéia do quanto já fomos mais “cultos”.
A história da ASCLA tem seu início em 31 de janeiro de 1970 quando, sob a orientação do carismático Pe. Danilo Gazeto (“O Padre Garotão”) e direção do Sr. Jaime Noberto da Silva, jovens intelectuais, muitos deles acadêmicos, reúnem-se no GENNSP, para juntos fundarem uma entidade cultural, com fins a melhorar o marasmo da cidade, tipicamente coronelista e apolítica. O convite para a reunião prescrevia o seguinte: “Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá um canalha a menos”. E assim, repletos do civismo próprio daqueles tempos de ditadura militar, escolheu-se, por unanimidade, o nome da então criada Associação Cultural de Lagarto (ACL).
Aqui, já alguns dados curiosos podem ser alentados: na época, era Prefeito de Lagarto, o popular Dionísio de Araújo Machado, um dos precursores da política Saramandaia x Bole-Bole; o Grupo Sílvio Romero já era cobiçado para a sede da associação; o jurista Paulo Andrade Prata, foi um dos idealizadores da entidade.
A diretoria provisória foi assim constituída: Presidente – Jaime Noberto da Silva; Vice-Presidente – Ivan Batista de Santana; 1º Secretário – Paulo Andrade Prata; 2º Secretário – Maria Helena Alves; 1º Tesoureiro – José Fonseca Reis; 2º Tesoureiro – Paulo Nogueira Fontes; Relações Públicas – Raimundo Alves Santos e Supervisor – Pe. Danilo.
A fundação, de fato e oficialmente estabelecida, deu-se no dia 21 de fevereiro de 1970. Com sede provisória no Grupo Sílvio Romero, a nova associação de Lagarto tinha a finalidade de “promover os jovens no campo moral, intelectual, social e esportivo, além de religioso”. A diretoria oficial, a primeira, ficou assim: Presidência – Ivan Batista de Santana; Vice-Presidente – Gilson Batista de Menezes; 1º Secretário – Maria Helena Alves; 2º Secretário – José Macário; 1º Tesoureiro – José Fonseca Reis; 2º Tesoureiro – Jaime Noberto da Silva.
Daí em diante, começam as primeiras realizações da ASCLA, que ficaram marcadas na pobre história cultural de Lagarto.
Um dos primeiros grandes eventos dessa associação, foi a comemoração dos 90 anos da Emancipação Política de Lagarto, em 21 de abril de 1970. Na oportunidade, organizou-se uma exposição de objetos e fotos de Lagarto antigo e da época, com a participação, por escrito, de 907 pessoas. Destaque para a exposição dos primeiros castiçais encontrados na igreja do Sto. Antônio, datados do século XVII. Local do evento: Praça Filomeno Hora, nº 71.
No dia 21 de abril de 1972, a ASCLA comemorou, com muita pompa, o Sesquicentenário da Independência do Brasil. Houve na ocasião, uma programação toda especial: alvorada festiva às cinco horas; solenidade no Estádio Paulo Barreto de Menezes, com missa celebrada pelo, em ascensão, Pe. Mário Rino Sivieri; Torneio esportivo (Taça Liberdade); além de outras cerimônias como a “Saudação ao Mestre”, homenagem prestada a Sílvio Romero, que teve como orador o atual Secretário da Educação do Estado, o lagartense Luiz Antônio Barreto.
Em 1973, juntamente com o prefeito José Ribeiro de Souza, no dia 26 de janeiro a ASCLA promoveu as festividades relativa ao Centenário de Laudelino Freire. Na oportunidade foi inaugurado o prédio da atual Câmara Municipal, que leva o nome do homenageado. Aqui, destaque para a palestra feita pelo escritor lagartense Abelardo Romero Dantas, feita no Colégio Laudelino Freire.
A ASCLA, por essa série de eventos, já contava com a simpatia das autoridades da época e com o respeito da população lagartense, tanto que em 1977, recebera das mãos do Prefeito José Vieira Filho, sua sede própria, localizada nas proximidades da Pça. da Piedade – nada mais que no centro da cidade.
Aliás, essa questão de sede sempre foi uma problemática para a entidade, além das muitas desistências de seus membros. Não sabemos ao certo o porquê dessa última ocorrência, mas o que se deixa perceber nas entrelinhas do livro de atas são as “mesquinharias” que existiam dentro da associação, como também “ciumeiras” próprias de áreas que exercem poder e influência: questões pessoais vão além dos ideais abraçados e jurados.
Assim, 1977, sob a presidência do Sr. Lourival Santos (artista plástico lagartense), dá-se o quase inevitável: a primeira desativação da ASCLA, que só retomaria seus trabalhos em 1988.